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August 20, 2021

Um olhar mais apurado sobre o conceito de estratégia adaptativa

Recentemente publicamos um conteúdo inicial sobre o conceito de estratégia adaptativa e sua aderência ao contexto de cultura de aprendizagem, uma das principais tendências que devem nortear as ações das áreas de T&D/Educação Corporativa e RH em gestão e desenvolvimento de pessoas daqui para os próximos anos. Na produção desse conteúdo, tivemos a oportunidade de fazer uma entrevista exclusiva com o Luís Sousa, parceiro facilitador da Afferolab e especialista em Estratégia, que nos contou mais sobre o conceito.


O resultado desse papo você pode ler abaixo.


Afferolab – Luís, em nossa última conversa, quando falávamos sobre cultura da aprendizagem, você falou pra gente sobre a estratégia adaptativa. Pode nos contar mais sobre isso e por que ela é importante?


LS – Olha, vou construir essa resposta passeando pelos processos da formulação e execução da estratégia. Usualmente, a formulação da estratégia inicia no alto escalão e é na execução que se envolve mais intensamente a média gerência (que traduz objetivos e metas em ações) e a base (que executa as ações e que, em grande parte, está em contato direto com o cliente). A base e a média gerência, quando bem-preparadas, percebem sinais do cliente e do ambiente externo como um todo, sinais estes que implicam ajustes nas ações para assegurar que as metas e objetivos sejam atingidos. As empresas que permitem a incorporação desses ajustes vindos “bottom-up” praticam o que se denomina “estratégia adaptativa”, que é a maneira de incorporar a inteligência coletiva e ajustar a estratégia em função da volatilidade do ambiente externo à empresa e do contexto de mundo.


Os ajustes “bottom-up” não ocorrem de forma natural. Há necessidade de preparar e envolver as pessoas para que elas entendam como as ações que realizam estão conectadas com a estratégia da empresa e, assim, interpretem as mensagens que recebem dos clientes e as ocorrências no ambiente externo que demandem ajustes nas ações em andamento.


AL – Você pode contextualizar isso para nossos leitores?


LS – Bom. Digamos que uma empresa que comercializa seus produtos por canais de distribuição do varejo tradicional tenha percebido a necessidade de melhorar sua relação com o usuário final do produto e, por isso, reservou orçamento para alocar demonstradores em PDVs, em âmbito nacional, por um período pré-definido. Em paralelo, o analista de marketing da mesma empresa, ao sair para comprar um vinho, descobriu que se apontasse a câmera do celular para um QR code no rótulo da bebida poderia “conversar” com um demonstrador virtual que permitia, inclusive, interações.


Será que esse analista foi preparado para perceber que se trata de uma nova ideia que pode substituir os demonstradores físicos que estavam definidos na estratégia nacional e reduzir consideravelmente os custos do setor? E mais, será que ele tem a liberdade de trazer um insight desses pra dentro da organização? Se as duas respostas são “sim”, estamos falando de uma organização que adota a estratégia adaptativa.


AL – E Luís, por que você entende que a adoção da estratégia adaptativa é urgente no atual cenário econômico?


LS – Porque o atual cenário econômico aponta para uma retomada em vários setores, em âmbito global. Esse período de isolamento social global trouxe novas tecnologias, exauriu ao máximo outras já existentes e acelerou novos modelos de negócio em empresas de todos os segmentos. Neste novo contexto de negócios as empresas precisam “errar rápido”, ou seja, perceber rapidamente o que não levará aos resultados pretendidos para, assim, conseguirem direcionar (às vezes até redirecionar) recursos e acelerar o que está dando certo ou eventualmente reconfigurar o que se pretendia inicialmente.


A execução da estratégia de forma adaptativa é uma interação dinâmica, de mão dupla, que emite desejos (top-down) e colhe caminhos (bottom-up) que se pode percorrer rumo aos objetivos e metas pretendidas.


AL – Como a estratégia adaptativa se relaciona com a transformação digital?


LS – Antes de responder a esta pergunta acho que vale refletirmos sobre o que é a transformação digital, pois há várias abordagens possíveis. Dentre elas, a que faz mais sentido no contexto de discussão da estratégia é a que está relacionada à rápida transformação de dados em informações para a tomada de decisões. Para que isso ocorra, a empresa precisa possuir sistemas integrados que assegurem a integridade das informações e uma rápida disseminação com controle de segurança em relação ao destino e uso dessas informações. Muitas empresas pensam a transformação digital como um processo de troca dos seus sistemas, quando, na realidade, antes elas precisam ‘trocar’ seus processos para, então, caso necessário, substituir seus sistemas. E, para que uma mudança de processos não troque seis por meia dúzia, é preciso investir na transformação da mentalidade das pessoas.


AL – É nisso que acreditamos também, Luís! A transformação digital vai muito além do que se entende por digital.


LS – Vai mesmo. Antes que uma organização se transforme digitalmente, é importante que ela reveja seus processos e conheça, a fundo, as pessoas por trás deles. Assim, respondendo à pergunta sobre o relacionamento da transformação digital com a estratégia adaptativa, é o seguinte: T&D precisa se reposicionar e atuar como um importante agente de aceleração da transformação digital por meio do desenvolvimento das pessoas para essa nova mentalidade, além de preparar as lideranças e as pessoas para compreenderem, criarem espaço e contribuírem com a estratégia adaptativa.


AL – Pode ilustrar isso?

LS – Vamos supor que você atue na área comercial em uma empresa que distribui produtos para o microvarejo. São mais de 10.000 SKU´s ofertados a 5.000 clientes ativos que são regularmente visitados por uma equipe de 50 representantes de vendas. A planilha eletrônica que você desenvolveu há um ano funcionou bem até o momento. Ela consolida dados de diferentes sistemas da empresa e os representantes sabem o quanto venderam e quanto cada cliente tomou de seu limite de crédito. No entanto, a empresa está avaliando um novo ERP que integrará automaticamente os dados de diferentes sistemas e otimizará a rota dos representantes, bem como o melhor mix de ofertas para cada cliente. Neste cenário futuro a transformação digital exigirá uma mudança em seu mindset, pois sua função demandará mais foco em algoritmos do que na elaboração planilhas.


AL – Que critérios devem ser considerados no desenho dessa estratégia?


LS – Diferentemente do que normalmente é feito, a formulação da estratégia não pode ser prescritiva, deve ser orientativa, se possível com macro orientações. Assim dará espaço para a média gerência agir e adaptar suas ações interagindo com o todo. Na prática, ela é comparável a uma banda de jazz, na qual cada um tem seu espaço para improvisar, sem destoar do tema principal – e sendo essencial que cada músico domine totalmente o instrumento que toca. Por outro lado, há que se considerar a cultura e estrutura de poder vigentes na empresa. Deve-se evitar estabelecer objetivos sem que se tenha um caminho previamente definido, em consenso, para atingir as metas a eles associadas.


AL – E qual é o papel dos C-Level dentro desse processo?


LS – O alto escalão da empresa precisa ser o promotor do processo. Ele tem que assumir um papel de engajar as pessoas na visão, missão e valores necessários, bem como praticar abertamente a imparcialidade ao tomar decisões e ao promover as negociações que ocorrem ao longo dos processos de formulação e execução da estratégia.


AL – Consultorias estão inseridas no processo da estratégia adaptativa?


LS – O uso de consultorias para esse processo é útil e muito bem-vindo quando ela possui independência para colocar em evidência o que precisa ser ajustado tanto para formular, quanto para executar a estratégia. Um olhar externo e independente agrega valor, mesmo quando apenas confirma que há pouca coisa a ser ajustada. Muitas consultorias de estratégia atuam com foco na formulação da estratégia, trazendo informações sobre estrutura, conduta e desempenho do mercado, fazendo as análises clássicas que dão condições para o alto escalão entender melhor “onde” competirá e identificar os elementos essenciais para “como” competir. Já as consultorias que atuam com foco na execução da estratégia colaboram de forma distinta, pois trazem para a organização metodologias que facilitam a disseminação e promovem o entendimento da estratégia por todas as pessoas. O importante aqui, além de formular a estratégia com ou sem o apoio de uma consultoria, é desdobrá-la em ações efetivas.


AL – Pode falar um pouco mais sobre como se dá essa fase de desdobramento e qual sua importância?


LS – O desdobramento da estratégia é a primeira atividade que acontece no processo de execução. É nesta etapa que as pessoas são comunicadas e têm a oportunidade de entender qual o impacto da estratégia nas suas atividades, o que se espera delas, onde se pretende chegar e em quanto tempo. É também neste momento que as pessoas podem antever o futuro que lhes espera dentro da organização e quando surgem as percepções quanto às barreiras e gaps existentes para a execução da estratégia, percepções essas que podem levar à insegurança ou ao engajamento das pessoas. A interação entre gestor e equipe facilita o processo, pois acelera a negociação direta entre as partes a respeito do que deve ser feito para eliminar gaps, contornar os obstáculos e estabelecer expectativas entre as partes.


A empresa, no processo estratégico, identifica que é necessário evoluir em ciência de dados. Ela pode simplesmente contratar pessoas externas ou buscar, dentro de casa, profissionais que estejam em um momento da carreira em que é possível a realização de ações de upskilling ou reskilling e, junto com o time de T&D e Ed. Corporativa, desenvolver essa nova competência dentro da própria organização. O gestor terá a possibilidade de negociar com sua equipe uma maneira de buscar capacitação. Assim, a tendência é que ele não cometa nenhuma imparcialidade ou injustiça se, ao final de um tempo, perceber que é necessário buscar um talento fora da equipe para alavancar o processo de evolução em ciência de dados. Isso estimularia a sensação de pertencimento da equipe, além de promover maior colaboração e engajamento ao propósito da empresa.


AL – Quais são os benefícios que ocorrem, na prática, quando uma organização opta por desdobrar a estratégia junto às suas equipes ao invés de simplesmente impor sua execução?


LS – Os benefícios mais imediatos são relacionados à postura das pessoas, observada pelo engajamento delas ao processo. Aqui o significado de engajar é ter pessoas que falem bem da empresa, tenham o desejo de permanecer e façam o “algo a mais”, esclarecendo que o algo a mais são as ações que não custam nada para a pessoa, mas valem muito para a empresa. Por exemplo: notei que no ponto de venda o freezer da empresa está sendo usado para expor produtos da concorrência. Sei quem devo acionar na empresa para intervir adequadamente no local e efetivamente faço isso.


Ao se conseguir o engajamento cria-se um círculo virtuoso no qual pessoas engajadas contribuem de forma ativa (“algo a mais”) para ajustar as ações e, com isso, colaboram com a elaboração de melhores estratégias – empresas com estratégias boas atraem e retêm os melhores talentos que, por sua vez, são essenciais para a execução das melhores estratégias.

Mais do que uma consultoria de treinamentos, atuamos como um ecossistema de aprendizagem, promovendo experiências de alto impacto, significativas, memoráveis e feitas para melhorar a vida de gente como a gente.

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