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June 14, 2019

O Líder e a Transformação Digital


Atualmente convivemos com empresas que estão em processo de transformação digital, outras que são nativas digitais e outras que não iniciaram este movimento. A transformação digital é encarada como um passo necessário para não estar em descompasso com as transformações no mundo e com o consumidor atual. Segundo dados de uma pesquisa realizada com altos executivos das mil maiores empresas do Brasil, eles estão compromissados em evoluir suas práticas nesse sentido, criando a própria realidade digital ou substituindo parcial ou integralmente a sua realidade analógica.


Nesse contexto, a primeira e mais crucial pergunta que o líder deve fazer é: transformação digital para quê?


Transformação digital tem muito a ver com a satisfação e proximidade com o cliente, “foco no foco do cliente” com obviamente o objetivo de aumentar o número de clientes, fidelizá-los, aumentar seu ticket médio etc. E para isso, rever processos internos, utilizar metodologias de cocriação, produção e serviços, automatização de tudo aquilo que pode aumentar produtividade e qualidade – e que prescindem de habilidades essencialmente humanas igualmente valorizadas nesse contexto – como comunicação, empatia, escuta ativa, visão sistêmica, são fundamentais. Há fortes indícios que estarão no futuro as empresas que estiverem conectadas a esse movimento.


Muitas vezes, contudo, há um entendimento entre as lideranças que, ao considerar o mindset digital dos membros da organização e/ou a adoção de ferramentas digitais, irão garantir a transformação digital. O primeiro ponto é que o mindset digital não é algo que você tem ou não, ele é um espectro. Estamos em diferentes pontos desse espectro, que inclui características como:


  • Encarar a colaboração como um recurso importante: em um ambiente complexo , não necessariamente a sua experiência do passado ajudará nos problemas do presente e do futuro. Criar valor em um contexto de mudanças rápidas e pouco previsíveis requer vários pontos de vista pensando juntos.


  • Valorização da diversidade: justamente para a colaboração funcionar, é necessário ter diversidade na forma de olhar para o mundo. É daí que conseguimos ir além do óbvio e nasce a inovação.


  • Capacidade de enxergar a abundância: encarar as trocas como oportunidades ganha-ganha e focar nas possibilidades. Conseguir ver além dos recursos escassos.


  • Agilidade: é mais do que se adaptar às mudanças, é vê-las como algo constante e natural. Estar confortável com a tecnologia, ver as mudanças como oportunidades, estar aberto para novas formas de trabalho.


  • Estar confortável com a ambiguidade: não há caminho nem planejamento totalmente seguros. A capacidade de tomar decisões sem ter informações completas e em cenários incertos, assim como ser capaz de corrigir o curso dos projetos por meio de pequenos experimentos se torna primordial.


  • Aprendizado constante: entender que o aprendizado terá que ser constante e para o resto da vida (lifelong learning). Em um contexto de muitas mudanças, para estar atualizado é necessário aprender continuamente.


Ou seja, o mindset digital vai muito além de ser capaz de utilizar tecnologias, de ser ativo nas redes sociais, utilizar inúmeros aplicativos, ter conta em bancos totalmente digitais. Tem a ver com a forma como operamos no mundo, e como enxergamos essas tecnologias: o portal da democratização, da escala e do aumento de velocidade para toda forma de interação e ação.


Vale então, salientar que transformações digitais bem-sucedidas envolvem alguns outros aspectos:


  • Tenha uma estratégia de negócio clara: a estratégia comercial mais ampla é o que importa. As tecnologias digitais são apenas o “meio” e não o fim.


  • Comece com o olhar do cliente: O entendimento profundo do cliente é o primeiro passo. Afinal, o objetivo é justamente sua satisfação. Em geral, as empresas partem para a adoção de ferramentas digitais sem realizar esse passo essencial, que é começar pelo cliente.


  • Considere os receios dos colaboradores: muitas vezes os colaboradores têm um mindset digital bem desenvolvido, porém podem ter receios de que a tecnologia os substituirá, ou de que não haverá espaço para eles nos novos modelos de negócios. Isso poderá conter a transformação digital. O papel dos líderes é estar próximo aos colaboradores para acolher seus receios, e mostrar como eles são importantes nessa equação.


  • Tenha estruturas organizacionais mais ágeis: o formato hierárquico tradicional não responde bem em um cenário de complexidade. Hierarquias mais fluidas, assim como abertura para testes e experimentos, com rápidos ciclos de aprendizagem, funcionam melhor. É necessário ter estruturas e processos que facilitem a colaboração e a valorização da diversidade.


  • Tenha uma visão de futuro: o que deve guiar a escolha de ferramentas digitais é o que as pessoas desejam que a empresa seja no futuro, e não o contrário. O propósito do negócio é o guia e motivador principal.


A estratégia de negócio, o propósito, o olhar para o cliente, os processos, a estrutura da organização, a cultura (que inclui as atitudes dos líderes) são ao mesmo tempo causa e consequência de mindset digitais bem desenvolvidos. Promover um mindset digital é parte da estratégia da transformação digital, e não toda ela.


No que diz respeito ao papel das ferramentas digitais, em especial as tecnologias exponenciais, tais como IA, machine learning, big data, analitycs, está evidente que a empresa que não se apropriar delas corre o risco de gradativamente se tornar obsoleta. A liderança nesse sentido tem como desafio aprimorar um olhar tecnólogo, futurista, inovador e, ao lado disso tudo, especialmente humanitário.


Cabe aos líderes, portanto, criarem um ambiente propício para que o mindset digital se desenvolva, com especial atenção para tudo o que está sustentando essa transformação digital.


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