Ou, como disse Mário Quintana, “O tempo é um ponto de vista. Velho é quem é um dia mais velho que a gente...”
Em razão dos progressos da ciência, da medicina e do esforço das pessoas por uma maior qualidade de vida, já faz algum tempo que a população mundial está ficando mais idosa, longeva, mais experiente, mais velha, vetusta ou, como preferimos dizer, mais madura. Esta realidade gera impactos consideráveis em muitos âmbitos, na economia privada, nas agendas de políticas governamentais, no turismo, na arte, na educação e – como não? – no mercado de trabalho.
Temos, hoje, e isso tende a crescer em poucos anos, um contingente inédito de pessoas com mais de 60 representando grande parte da população global. Neste texto, vamos falar especificamente sobre um assunto que vem sendo bem discutido nos últimos tempos: diversidade geracional e longevidade e seus impactos no funcionamento do mundo.
Segundo a Organização das Nações Unidas, é esperado que nos próximos 30 anos o número de idosos e idosas em todo o mundo mais do que duplique, atingindo acima de 2,1 bilhões de pessoas em 2050 – ou 25% da humanidade . Ainda, neste contexto, o Brasil deve ocupar o sexto lugar no ranking mundial dos países com a população mais madura do mundo que, aqui, também vai mais que dobrar. E tudo isso em um mundo no qual, mesmo em processo de transformação tecnológica, econômica, social, cultural, com o olhar voltado décadas à frente, incrivelmente não se percebeu a força econômica de um nicho que, de tão populoso, deveria liderar mercados inteiros.
Sabemos que, se você está aqui no nosso blog, é provável que esteja por dentro do que vem acontecendo com o mercado de trabalho e já tenha tomado conhecimento a respeito desses números. Mas você sabe como, efetivamente, eles vão impactar a nossa vida profissional e o próprio mercado?
Porque isso envolve muito mais do que um aumento populacional, gerando impactos também em todas as esferas com as quais as empresas lidam no dia a dia, começando pela equipe de colaboradores e colaboradoras, passando por empresas parceiras, fornecedoras e chegando à comunidade na qual mantém suas operações – comunidade esta que terá, também cada vez mais, suas demandas alinhadas às necessidades desse público com maior quantidade de pessoas mais maduras.
Somente nos últimos anos a população madura começou a receber alguma atenção por parte de diversos setores da sociedade, pois até então ela era considerada invisível. Hoje em dia, muito mais fácil do que achar uma senhora em casa cuidando dos netos, é achar um grupo de senhoras se exercitando juntas, todas as semanas, numa academia. Além disso, um grande contingente dessa faixa etária 60+ permanece trabalhando, muitas pessoas ainda atuando como arrimos de família.
Segundo o estudo Tsunami 60+, 63% das pessoas com mais de 60 anos são provedoras da família no Brasil , e 86% do grupo 55+ e 93% do grupo 75+ possuem renda própria. Porém, estamos há anos em crise econômica e com um déficit previdenciário que acabou por estender o período profissional até a aposentadoria, e essa suposta renda não é suficiente para muita gente. Assim, muito mais do que um movimento constante pela qualidade de vida e pelo lazer, essa população não para porque trabalha – sendo que muitas pessoas simplesmente não podem parar de trabalhar por escolha própria.
Desta forma, olhando especificamente para o mercado de trabalho, os desafios são incontáveis. A começar pelos obstáculos do etarismo , que atrapalham que as pessoas maduras sejam entendidas em todas as suas potencialidades em um mundo ágil, em constante movimento, tomado pelas novas gerações e totalmente tecnológico. Na visão de muita gente (e aqui incluem-se empresas, marcas e governos), esses aspectos de mundo fazem com que os idosos estejam “no tempo errado”. E não é por aí. Este tempo também é deles, então cabe a toda a sociedade se adequar a essa diversidade etária – e BINGO, chegamos ao ponto em que queríamos chegar: a inclusão de pessoas maduras faz parte do contexto de diversidade .
A demanda por inclusão de perfis diversos já vem de muito tempo, e as pessoas maduras fazem parte desse contexto. Não se trata, portanto, de começar nada do zero, mas de readequar políticas, práticas, promover conscientização e troca entre as pessoas mais diferentes entre si . Se tem quem esteja preocupado, achando ser um bicho de sete cabeças, é bom dizer: apenas uma delas é branca. O desafio já estava aí e, como todos os anteriores, passou a chamar a atenção quando começou a ganhar corpo.
E, como toda diversidade traz seus benefícios, agora falamos de uma fatia da população que possui atributos extremamente importantes para a manutenção das sociedades, então precisamos deixar de lado a ideia antiquada que rotula idosos como incapazes de acompanharem a evolução e liga essas pessoas diretamente à aposentadoria – isso sem entrarmos no mérito de que, no Brasil, o contexto previdenciário passa por um período bem delicado, o que estende o período de trabalho das pessoas por mais alguns anos.
Experiência, bagagem, o fato de ter vivido o surgimento e a ascensão da internet, autoconhecimento, inteligência emocional, maturidade e propósitos de vida mais definidos, tudo em razão da própria experiência de vida: como isso tudo pode ser negativo em um momento da história em que passado, presente e futuro estão, mais do que nunca, entrelaçados?
Por mais que vivamos olhando para o futuro – e não é pra menos, pois a transformação digital exige isso – é chegada a hora de darmos o devido valor ao que temos no presente, que nos ajudará a chegar, justamente, ao futuro. E a força de trabalho madura faz parte disso.
É sabido que momentos históricos e seus principais eventos influenciam diretamente em aspectos como personalidade, comportamento, aspirações, propósito de vida, padrões e valores, sendo esse um dos argumentos que listam as pessoas conforme suas gerações dentro do nosso contexto de mundo.
Porém, em um cenário global com tanta diversidade como o atual, se no início do século era legal rotular pessoas de acordo com as gerações às quais elas pertenciam, afinal, a geração Y foi a primeira a quebrar paradigmas de forma a chamar a atenção das empresas e do próprio funcionamento da economia em todo o planeta – então era preciso juntar argumentos para justificar essas mudanças –, quando voltamos ao presente, rotular as pessoas e carimbar suas carreiras com um signo geracional indelével não é mais a melhor escolha. Não para as empresas que querem o melhor de todos os mundos e todas as gerações.
Dentro do âmbito de T&D, a inclusão real de pessoas maduras deve ser uma realidade perene daqui pra frente. Esse esforço precisa consistir em ações de conscientização, sensibilização, entendimento dos desdobramentos do rápido envelhecimento populacional para a economia como um todo e iniciativas de “reprogramação” dos vieses inconscientes, que são os primeiros inimigos dessa mudança de chave.
Além disso, líderes de áreas relacionadas a Pessoas e T&D devem ter em consideração os crescentes casos de revisão de carreira, nos quais pessoas maduras, com bagagem consolidada em determinada atividade, optam por aprender a fazer outras coisas – muitas vezes do zero – em busca de significado, propósito e realização pessoal. Detalhe é que esse ímpeto – o dinheiro perdendo espaço para o significado – é um aspecto comum dentro do contexto de diversidade. Por mais diferentes que as pessoas sejam, incluindo a idade, hoje e para o futuro elas priorizam o propósito . Esta é uma pista importante que pode direcionar todo o trabalho de cultura e aprendizado dentro de uma organização.
Sem essa dedicação, as organizações dificilmente passarão da percepção do desafio ao entendimento da oportunidade que se abre com esse novo contexto.
Referências
A missão da Hype60+: abrir os olhos do mundo para o público (e o mercado) sênior. Bruno Leuzinger. 2018. Disponível em: https://www.projetodraft.com/a-missao-da-hype60-abrir-os-olhos-do-mundo-para-o-publico-e-o-mercado-senior/ . Acesso em: 31 mar. 2022.
Longevidade Inteligente. Alexandre Correa. São Paulo, Novatec. 2020
Tsunami Prateado. 2018. Disponível em: https://tsunami60mais.com.br/ . Acesso em: 31 mar. 2022.
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